Ilustração "Ticumbi", da série "Manifestações da Cultura Brasileira. 
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “Ticumbi”, da série “Manifestações da Cultura Brasileira.
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Entre serra e mar,
Das tardes num rio a se banhar,
Os pensamentos vagueiam num dourado céu de acolá.
Vales e montanhas, verde e azul de uma terra ao léu…
Dorme um sonho de quem acredita naquele lugar.
Em roda da pedra ou na Barra
Um congo a cantarolar, a dançar…

Ticumbí nas dunas,
Jongo e Folia vêm lá.
Gente que planta a semente,
Sopro de vida de um ser maior…
Cala a palavra e o que fala é a vida ao luar
Em roda da pedra…
Entre serra e mar…

Mar e Montanha
Grupo Moxuara

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Ticumbi

O ticumbi é um baile de congos, típico do norte do Estado do Espírito Santo, encontrado no Vale do Cricaré, região entre as cidades de Conceição da Barra e São Mateus. Trata-se de um folguedo tradicional que acontece no começo do ano, encenado para homenagear São Benedito, padroeiro dos negros, pobres e oprimidos, e São Sebastião.

A procissão leva a imagem de São Benedito do Córrego das Piabas, no distrito de Meleiras até a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, no centro da cidade, onde os membros do Ticumbi se apresentam, iniciando o primeiro mês do ano. A festa continua no Baile de São Benedito e São Sebastião, na segunda semana de janeiro. 

Trata-se de uma dança coreografada, com enredo onde, conta a história, que o “Rei de Congo”, cristão, queria fazer a festa de São Benedito sozinho, separado do “Rei de Bamba”, pagão. Como não há acordo entre as duas nações, a guerra é travada e seus secretários se desafiam fazendo embaixadas, em coreografias agitadas, na forma de uma luta bailada. Essa guerra inicial é denominada “primeira guerra de reis congo” ou “guerra sem travá”. Quando os reis entram para guerrear, realiza-se a “guerra travada”, onde os reis batem as espadas junto com seus secretários.

Os personagens que fazem parte do folguedo são o Rei de Congo, os Rei de Bamba, seus secretários próprios, e o corpo de dança de cada nação, composto por dois guias, dois contra guias e um número de congos que pode variar, representando os guerreiros das duas nações. Há ainda o violeiro, que participa das encenações.



O Ticumbi tem uma característica própria muito interessante: cada ano os versos são alterados para contar algum fato novo que aconteceu ou alguma história local, nacional ou internacional, que acaba marcando a história da cidade. São cantados na praça, um local público.

Suas vestimentas são bem característica, formadas por longas batas brancas rendadas, calça branca larga com um friso de fita ao lado das pernas, duas fitas trançadas no peito, espadas e na cabeça um chapéu cheio de flores com fitas longas, tudo muito colorido. Os reis aparecem com coroas de papelão, enfeitadas com papel dourado ou prateado, peitoral de espelhinhos e flores de papel, uma capa comprida e, nas mãos ou na cintura, uma longa espada.

Os instrumentos que fazem o ritmo são os pandeiros e os “Ganzás” ou “Canzás”, chocalhos feitos de latas. A viola entra junto com os participantes sendo a vestimenta do violeiro bem parecida com a dos dançantes.

A encenação acontece na frente da igreja de Itaúnas.

A vila de Itaúnas, distrito de Conceição da Barra, localiza-se no extremo norte do estado do Espirito Santo, pertinho da divisa com o estado da Bahia. É um vilarejo simpático, rustico e bucólico, de terra batida, onde vive um pouco mais de 2.000 pessoas.

Na vila reinam a diversidade de manifestações de cultura tradicional que vão das danças e folguedos, até ritmos, formas de fazer objetos utilitários, barcos, artesanato, gastronomia.

A vila antiga, sumiu sob as areias que foram se instalando aos poucos, num processo longo mas constate. A igreja e o cemitério sumiram em primeiro lugar. Mas, por amor de seu povo, ela foi sendo reconstruída, aos pouquinhos, buscando-se a semelhança com a anterior, mas atravessando lentamente o rio Itaúnas, indo parar na sua margem oposta.


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No começo de todos os anos, os moradores comemoram o dia de São Benedito e São Sebastião, presentes também no calendário anual de Conceição da Barra e do estado do Espírito Santo. Nos meses de outubro e novembro, começam os ensaios dos grupos de ticumbi nas roças, para a encenação em homenagem a São Benedito.

O ticumbi, encenado nas homenagens aos santos, é um registro vivo das histórias contadas pelos seus moradores antigos. Na forma da dança e das letras estas historias passam de pai para filho.

“De acordo com alguns relatos, o ticumbi é criação de Silvestre Nagô, negro escravo que, para animar seus pares, inventou os folguedos, rapidamente transformados em modo de lembrar e reviver o passado, fortalecer laços e identidades, manter e reconstruir memórias e de mobilização da própria comunidade que o produzia. ” (ALVARENGA, 2011)

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Por Lu Paternostro
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